Na pele das ruas

 

 

 

 

Sim, era verão na pele

das ruas

as flores cresciam ao acaso

entre a floração das horas

Um trem cego seguia a lua

E eu namorava a alma

das palavras plenas

Casca da claridade

        

Se tirar da claridade

a sua casca

surgem as palavras

que escapam do outono

quando não adestradas

Pois os poemas são orações

para adormecer as crianças

e lembrar aos homens

que as tardes

são como canções breves

Os poemas são pássaros

de claridade

que carregamos

nos bolsos da alma

Sobre pontes

Se um menino sai de uma palavra
por que um navio não pode cumprir
seu destino?
Se nas pontes calçadas
da noite
passam tantos e tantos
caminhantes

                       Francisco Orban

Do mar

São do mar as palavras que chegam
com avisos de grandes estuários
são jangadas que deságuam
na imensidão azul que se alastra

São do mar esses semblantes
já crestados pelo sal das vidas áridas
a cercar com as redes da esperança
as cidades solares de areia

Legado II

Do mar 
estes búzios
onde dentro 
o mar ditava
sua sinfonia 
de águas
e muitos
ventos
e remos
e remadores
atentos
aos seus 
cantos
e ciladas

Algazarra

Cresci dentro da algazarra 
só entre pontes e ciladas
Impactado pelo amor 
e o desamor das palavras
sem menos que antes 
ou cercas de arames
Sereno diante do vento
da noite
a sussurrar-me o universo
errante