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terça-feira, 18 de julho de 2023

Cerco

Declínio da aurora

 

Parece o declínio da aurora

mas é uma cidade amparada

entre estrelas cortantes

e o cerco das madrugadas

 

E buscando suas ruas

só chegamos no agora

a nos deparar com os cacos

do que foi sua arquitetura

 

Parece uma grande cidade

com luminosas estradas

mas é só a vasta orla

que um dia concedeu nado

aos nossos sonhos alados

  

Trapezistas


 

O tempo escorria aberto

como um rio incessante

De nós se iam os dias

em fuga como enxames

Subíamos por seus andaimes

como trapezistas breves

tal qual inquilinos errantes

de um ignorado plano 

Tarrafas

 


 

Quantas palavras pesquei

no indizível

Para viver eu segui

os acenos do mar

e tentei alardear

sua conspiração com o azul

sua sujeição à aurora

e açudes imprevisíveis

Mas para achar a radiância

me fiz valer da poesia

Ela me traz os barcos

que me levam às dunas

do sagrado

Redes

 


 

Estes navios não seguem

o curso de um rio

Enroscados nas redes que os enredam

não ousam sequer pensar-se

como veleiros passageiros

No descampado mar em que desaguam

não se dão conta que a si mesmos retornam

ao velejar pelo acaso

do que pensam ser ensaio

mas que já é destino

 

Liturgia

 


 

Vi que a claridade tinha

outra liturgia

e ela era muito mais

que o alvoroço do dia

e seus matizes da luz

nosso desejo acendia

de com as aves partir

mas sem dispor  da alforria

com que se fizeram de vento

acima do firmamento