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quarta-feira, 22 de maio de 2019

País abandonado



Não subscrevo canções distantes
moro na noite de um país abandonado
recosto no chão meu rosto exilado
e tento ouvir os tambores ao longe
mas só há silêncio
As vozes dos que sonharam
cessaram

Por suas mãos



Não me limitei só aos sentidos
vi no amor um barco e um desígnio 
e por sua luz atravessei abismos
até achá-lo no crepúsculo de um rio
e por suas mãos atravessei a madrugada
até achá-lo no pernoite das águas 

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Se eu morasse perto do mar




       Se eu morasse perto 
     do mar
     viajaríamos por outros 
     caminhos
     redesenharíamos 
     outros destinos
     e eu teria como função
     construir barcas 
     que chegassem a você
     que te fizessem repousar 
     nos meus ombros
     e entre as dunas desses 
     escombros
     nos dessem outro 
     amanhecer
              
                 (Francisco Orban)
     

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Navios




Como tirar um navio
dos estaleiros do coração
se um navio não cabe
nas ruas da cidade?

E como drenar seus rios
com suas tardes
de  repousos oceânicos
e descansos pelas estações
dos mares?

Como tirar um navio do coração
sem comprometer
a rota de seus rumos
e seu adorno de velas brancas?

Como resgatá-lo
com seu sangue aguado
pelo afago das maresias
e seu dorso silenciado
pelas noites adernadas
nas estradas de mar
desse  mundo?

Como tirar um navio
do coração
gestado nos estaleiros
das palavras
desse breve poeta
que navegou sempre
no impossível da alma?

Escultor de palavras


Escrever versos é esculpir palavras
Nada que as mãos do Outono
não desfaçam
Escrever versos
é esculpir na pedra
até que o mármore
da palavra
nasça 

Tarrafas




Nunca precisei da lua
como agora
com sua tez clara
a gestar auroras

As redes infinitas
que arremessei
sob as estrelas
hoje são velhas tarrafas
a resgatar vidas
esgarçadas

O menino de água
que fui
se foi na curva
da quarta-feira

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Casca da claridade


        


Se tirar da claridade
a sua casca
surgem as palavras
que escapam do outono
quando não adestradas


Pois os poemas são orações
para adormecer as crianças
e lembrar aos homens
que as tardes
são como canções breves


Os poemas são pássaros
de claridade
que carregamos
nos bolsos da alma

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Horizontes distantes



E com as mãos encharcadas                      
de horizontes distantes
eu sigo como por instinto
a ordem muda dos signos

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Mar adentro



Como procuração trouxe o mar
para as grandes estiagens 
que viriam
e por isso para sonhar
tenho barcos, enseadas
As tardes abrasantes dos
primeiros dias

Como procuração tenho o mar
que me segue à minha revelia




domingo, 17 de fevereiro de 2019

País inventado


Um dia sairemos na noite
os versos serão plantas abertas
os passos, claros caminhos
e com a visão dos meninos
deitaremos sobre um grande
país inventado

Sairemos na noite
entre  violinos
e nossos sonhos e 
pergaminhos
serão refeitos
num pátio
afagado de sol

sábado, 16 de fevereiro de 2019

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Sinfonias de vento





Do mar
esses búzios
onde dentro o mar ditava
sua sinfonia de águas
e muitos ventos 
e remos
e remadores atentos
aos seus cantos
e ciladas

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O que fica do amor





Se há algo que
fica do  amor
e seus escombros
são os vagos
simulacros
que inventamos
Pois o amor
com seu grande
oceano
Não se vai
como um barco
abandonado
retorna
e cobra seu legado
e nos joga sobre o mar
e seus costados

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Remadores

Remavam com os braços
das águas
pela tez dos ventos
com os músculos do tempo
e das lembranças
Remavam porque esta era a saga
a ser vencida
e iam esculpidos pelo nada
a fazer a jornada
das vidas vividas

Remavam porque remar
era nascer
Até que na foz do horizonte
já não se perceberam barcos
mas pássaros já capazes
de ganhar a imensidão

Então se foram pelo azul
em campo aberto
e se não fossem pássaros
diria que eram um homem
e uma mulher

Diria que voavam para o amanhecer
de si mesmos´

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Gaivotas


Do céu as gaivotas nascem
chegam das grandes migrações
a rastrear peixes e mares
que não as percebem sagazes
Do céu observam tudo
em regresso de marinas
de outros mundos
sob o afago
da imensidão azul
que se alastra
Sobre o mar planam leves
enquanto os pescadores se debatem
com seus versos tarrafas
e cansaços

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Quando eu envelhecer


                                    


Quando eu envelhecer
e os versos forem só minha pousada
já não andarei na terra para lutas
mas para plantar  palavras
Quando envelhecer
guardarei teu rosto
que é o navio da minha alma
entre as samambaias do tempo
que o tempo também tem safras
onde colho meus poemas
que crescem a cada estação
assim como te colho
a cada dia que passa
nas terras do coração

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Enseada


Eu a despi pouco a pouco
uma mulher tão linda
que tinha o gosto das águas
Nos olhos as luzes do porto
nos seios toda suada pelo
alvoroço e o abandono
chamava-me de  meu amor
e o mar era nossa enseada

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Sob o brilho da lua


Que posso mais eu querer
o rei que deixou-te nua?
A noite traz labaredas
que ponho nos meus afagos
O amor é um rio doce
que  me abres em teu  corpo
E tudo em torno é silêncio
menos o brilho da lua
que testemunha teus seios
só para mim apontados
enquanto teus beijos me levam
para um país encantado

Veleiro passageiro

Este navio não segue o curso
de um rio.
Enroscado nas redes
que o enredam
não se inventa de outra
forma
E não ousa pensar-se
nem como um veleiro
passageiro.
No descampado mar
que o acolhe, não percebe
que é a si mesmo que estorna
ao afogar-se no ocaso
do que é apenas ensaio
mas que pensa ser destino

sábado, 19 de janeiro de 2019

Agosto

Agosto se despede
com as águas das enxurradas
nas ruas eu jogo as tarrafas
nos horizontes sem fim

Qual veleiros

Aqui onde  nasce o mar
nunca chega teus olhos
de mim para sempre distantes
qual veleiros no horizonte

domingo, 6 de janeiro de 2019

Comensal das águas



Então foi do mar que me veio as palavras 
e eu que era um menino de vento
a seguir  barcos e enseadas
tornei-me um  comensal das águas

sábado, 5 de janeiro de 2019

O poema de água



             

Não que fosse do mar
a tez da tua pele
Os mapas para te achar
perderam-se pelas estradas
não as reais pedra ou água
ou das almas velejadas

O mapa para te achar
perdeu-se nessas ruelas
na argila do teu silêncio
distinto do oceano
e tudo o que vivemos