Então ouviu o estampido seguido de um baque na escuridão e um cansaço que subitamente com a escuridão se alastrara. Caiu rolando como se fosse o combatente de uma guerra não declarada e em queda livre, e sua camisa encharcada de sangue e aventuras, parecia-lhe de uma natureza estranha, como uma pele gelada sobre a carne fria.
Agora, o mundo escoava, mas era ele que se desfazia, e os dedos desapareciam, e as mãos distantes lhe faltavam. Então sob a noite imensamente escura, escutou uma voz que surgiu do silêncio, uma voz suave e doce, como um sussurro, como se a morte chegasse trazida por uma canção de ninar, como um acalanto, e pela primeira vez sentiu paz nos seus longos quinze anos. Foi assim que morreu, sentindo-se Mozart, sem ter sido Mozart. Entendendo subitamente os enigmas do universo, sem nunca ter se indagado sobre nada , assombrosamente em paz e embalado pela voz que cada vez mais próxima sussurrava, a lhe chamar de meu amor
Do livro de Francisco Orban, Leilão de acasos, (editora Garamond
tel 021.25049211)
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