De início não foi assim que eu me via, ao levar a
minha pequena lanterna na bagagem das ações impossíveis. Assim eu segui as
hordas e passei a me permitir um namoro proveitoso com o absoluto. De noite eu
ministrava sob as estrelas o saber dos crucificados e durante esses cultos
dava-me conta da presença de pequenos seres, acampados por perto. Vinham
oriundos das regiões remotas orar pela terra e temiam que não sobrevivêssemos.
As vigílias se estendiam por noites envoltas em um clima de grande paz. Diziam-me
da existência de um criador que se tornara mortal ao se transmudar em toda vida. Ao mesmo
tempo falavam-me da nossa provisória vida. Uma noite acendi a lanterna para
vê-los, mas evadiram-se como num sonho, deixando uma frase tatuada em meu
braço: Extinção é para sempre. No dia seguinte pude voltar à mais
fascinante das aventuras, que é a transmutação do que somos em elementos
minerais e vegetais, como pedra, mar, floresta, mantendo-nos assim, em comunhão
com as almas dos bichos e das plantas, para de longe assistir ao ruidoso
tumulto da experiência humana. Francisco Orban ( Livro Leilão de acasos/ Ed Garamound)
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