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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Leilão de acasos

De início não foi assim que eu me via, ao levar a minha pequena lanterna na bagagem das ações impossíveis. Assim eu segui as hordas e passei a me permitir um namoro proveitoso com o absoluto. De noite eu ministrava sob as estrelas o saber dos crucificados e durante esses cultos dava-me conta da presença de pequenos seres, acampados por perto. Vinham oriundos das regiões remotas orar pela terra e temiam que não sobrevivêssemos. As vigílias se estendiam por noites envoltas em um clima de grande paz. Diziam-me da existência de um criador que se tornara mortal ao se transmudar em toda vida. Ao mesmo tempo falavam-me da nossa provisória vida. Uma noite acendi a lanterna para vê-los, mas evadiram-se como num sonho, deixando uma frase tatuada em meu  braço: Extinção é para sempre. No dia seguinte  pude voltar à mais fascinante das aventuras, que é a transmutação do que somos em elementos minerais e vegetais, como pedra, mar, floresta, mantendo-nos assim, em comunhão com as almas dos bichos e das plantas, para de longe assistir ao ruidoso tumulto da experiência humana.   Francisco Orban ( Livro Leilão de acasos/ Ed Garamound)

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