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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Ônibus 614




A noite por dentro das horas e do amor
e os rostos deitados no chão do mundo
Assim caminhava-se:
milhões de cigarras na pele das calçadas
e as pedras suadas
e o cheiro de rio de mata e silêncio
e eu sem saber navegar
e sem saber do mar
e o ônibus 614 levando os meninos e meninas
com seus destinos de vento

Nada mais se sabe desta terra
nem do rosto dos seus encantados
estacionados nas madrugadas
de um mundo sem fusos-horários



Éramos filhos da noite
e havia os balões e seus caçadores
pela madrugada
e o espírito da mata com seus sonhadores
e os dias com seus mares abertos
onde o ônibus 614 passou
percorrendo  vinte quadras
antes de embrenhar-se no mundo
e descer pelos ralos do nada

Éramos filhos da terra

E a noite nos recriava
Um rio atravessau o mundo
sob a chuva que se estendeu por cem horas
entre pedras, caminhões, estrelas mortas
Tudo desceu pelo dedo das horas
naquela vida assombrada
em que para nascer era preciso
descer no ônibus 614
em um mundo sem palavras
em pleno estado de comunhão

Não estava escrito nos braços
dos navegantes
nem no navio que nos fez sair
do silencio
Não estava escrito no passado
onde nos vimos todos
nos mesmos bares e verbos
imunes ao tempo e seu  cenário
enquanto o ônibus 614
atravessava o mundo
levando os meninos e meninas
com seus destinos de vento



O ônibus 614 desceu a  Rocha Miranda
e viu Cristina Maria, feita de adolescência
e passou por dentro do tempo
entre as árvores desencontradas da esperança
pela experiência de ser guiado por uma estrela
que também por nós se guiava
pelos corredores azuis da noite
com o mapa do mar no bolso
com o mapa das águas no coração
Mínimos meninos
pisando nos trilhos de um trem que ia da alegria
a Itaguaí
mas que foi desativado
como foram oceanos
bichos, palavras, amores, amigos
lutas, violões, ventanias


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