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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Paraty



Naquele momento, olhando o mar com seu dorso amarrotado pelo vento, restaurei novamente meu diálogo com aquela cidade e seu passado. Paraty era então um lugarejo perdido de onde escoava o ouro. Suas igrejas dividiam seus habitantes: umas para os senhores, outras para as mulheres brancas, poucas para os mestiços e negros escravos.
Num mundo injusto e segregado, a cidade era assim repleta de insetos peçonhentos e de hábitos bizarros, como jogar dejetos nas ruas, sobre as calçadas de pedras trazidas de Portugal por navios. Pedras que não foram tantas quanto as de ouro arrancadas pelos homens negros , que aqui, como escravos, também de suas vidas foram expatriados.
Assim, chegamos do futuro a esta cidade pousada no azul como uma nave de luz no chão do mundo, toda feita de leveza pelos poetas que a restauraram e a reinventaram. Estes que foram os que possibilitaram a sua permanência como se encontra, assim como seus fundadores que um dia conspiraram para que ela existisse assim como uma pétala. E desta maneira a vemos agora, com os nossos olhos transmutados pelo hoje, na ilusão de que Paraty de alguma forma tenha sido sempre esta que aqui vivenciamos. É que, naquele mundo brutal, talvez ela existisse assim, como veio a se tornar, posto que embrionariamente já existia no coração dos homens.

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