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quarta-feira, 31 de julho de 2024

Alpercatas

 


Estas alpercatas 
emprestadas
Curtidas 
com o couro
das estrelas 
e estradas
Para calçar 
servem
nessas ruas 
esgarçadas
onde o coração
solar
não serve

terça-feira, 30 de julho de 2024

Pão de cada dia

 


 

 Eu fiz o caminho da chuva

quando as dunas do tempo acirraram-se

Meus passos eram dados no vento

que comigo dialogava insanamente

Nascemos nesse tempo de água

onde as noites nos

abordavam

a nos inquirir sob as estrelas

e nos fazer sobreviver de poesia

Só assim fomos plenos

quando a amor foi nosso pão

de cada dia

domingo, 28 de julho de 2024

Enigma

 


 

Não encontrarás em nada

a completude que procuras

Estás ancorado no enigma

do ser

no universo que te desconhece

e tudo é fugaz

encanta e estarrece

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Labaredas

 

Que posso mais eu querer ?

a noite traz labaredas

que guardo dos teus afagos

O amor é um rio doce

que me abres com teu corpo

e tudo em torno é silêncio

até o brilho da lua

que testemunha teus seios

só para mim apontados

enquanto o amor nos liberta

de um país assolado

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Simplesmente amada

 

Que eu chegue pouco a pouco até beijar teus olhos que  para mim são doces.E que em teu corpo eu faça a colheita da tua carne (que eu amo). Que assim, trêmula, você me abraçe. Eu sussurarei no teu ouvido os segredos do início do mundo e tu me dirás das dunas e das noites que te trouxeram a mim


quarta-feira, 17 de julho de 2024

Arrastão



Recolho do mar
os poemas
para que assim
renasçam
com seus motivos
de vento

Que importa se me trazem
a exaustão das estradas
ou os sudários esquecidos
dos habitantes do frio

Que importa se me trazem
a pele franzida e aguada
do escalpo de uma estrela
caída da madrugada  


Nos anzóis do dia-a-dia
fisgo os poemas
que emergem
da foz  de um mundo
não feito

terça-feira, 16 de julho de 2024

Relógio

 


                               


Que relógio é esse
batendo às cinco da tarde
entre as folhagens do tempo
e as ramagens do nada?


É a noite que o fita
e os homens o habitam
em sua febril batida
nas avenidas das almas


É a noite que o tece
em suas horas cansadas
onde a gestão da vida
em nosso rosto se talha

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Precário destino

 


 Há muito que o mar me trouxe

 como pele suas algas

Os ventos batem afoitos

nos cascalhos do meu rosto

Movido por um Deus mudo

sigo atento pelas dunas

do areal que ficou

do que um dia foi só água

Há muito que o mar deixou-me

como saga seus navios

e suas escunas brancas

com as tarrafas da esperança

Das coisas do mar e do mundo

eu sou tecelão e causa

arando com as palavras

os semblates das jangadas

Seguindo suas calçadas

perscrutando seus caminhos

eu dou um sentido maior

ao meu precário destino

catando búzios do mar

como acordes espalhados

neste areal de silêncio

onde estrelas fazem

pausas

sábado, 13 de julho de 2024

Como um navio banido

 Como um navio banido

 saio da orla azul onde habitamos

 Como um navio banido

 vagam no horizonte

 os nossos olhares apartados

 De novo somos os de antes

 mas longe das estrelas

 dos bares onde nos amamos

 e que hoje são os ícones mortos

 do nosso amor errante

 Como um navio banido


terça-feira, 9 de julho de 2024

Quase intenção

 Eu pisava no firmamento e chovia

Alegorias de cães quebravam a ordem do dia

Os chumaços dos avisos/que eu derramei pelo tempo

passaram a me nomear. Sem me dar conta. Sem acatar contas

Nobre é esta relva em que me deito na contramão do azul.

No leito dos últimos dias. Foi quase uma intenção sacrificar

os pássaros  

domingo, 7 de julho de 2024

Gaivotas

 Do céu as gaivotas nascem

chegam das grandes migrações

a rastrear mares e peixes

que não as percebem sagazes


Do céu observam tudo

em regresso de marinas de outros

mundos

sob o afago da imensidão

azul que se alastra


Sobre o mar planam leves

enquanto os pescadores se debatem

com seus versos, tarrafas

e cansaços

Olhos opacos


Aqui te entrego o meu corpo cumprido Os olhos já opacos sem mais brilho.

Os braços sem os músculos do olimpo.

Uma tímida barriga debruçada. Uns cabelos ralos desgarrados. Te entrego minhas mãos cansadas, com as manchas senis das estradas. As longas memórias remotas. Os curtos descuidos dos instantes e uma alma errante e adestrada para dublar o já vivido

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Imensidão

 


Não é necessário

do mar guardar

a imensidão azul

Basta prever 

o que dele exala

Os Buzios que devolve

com suas músicas náufragas

e as jangadas brancas 

desflaudadas 

tal qual

bandeiras

de ninguém 


quinta-feira, 4 de julho de 2024

Palavra

 

       Que cais sufraga esta palavra

      tão atônita em sua enseada?

      Palavra minha única estrada