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sexta-feira, 30 de maio de 2025

Relógio


 


                               


Que relógio é esse
batendo às cinco da tarde
entre as folhagens do tempo
e as ramagens do nada?


É a noite que o fita
e os homens o habitam
em sua febril batida
nas avenidas das almas


É a noite que o tece
em suas horas cansadas
onde a gestão da vida

em nosso rosto se talha 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Contingências

 


 

 

 

Todos os dias acordamos sitiados

Sabemos que lá fora fica o mar e seu país

azul.

Sabemos que as ilhas fazem parte

desse  continente ocupado.

         E  que nossas vidas e outras 

         oscilam entre os dias serenos

         e o abate

         E quanto ao mais

         nada sabemos

 

domingo, 25 de maio de 2025

Barro

Noite dos dizeres derramados Sob o luar uma sinfonia. Frágeis as mãos talham o barro da vida que seria E assim esta faz-se verso no corpo do poema até tornar-se pássaro e ir-se na ventania Então pensa o homem que é ave o barro de sua poesia

Efigênia

 

   

 

Não poderia fazer teu retrato

Porque teus olhos  tristes

não caberiam na moldura. Teus olhos

inundam o mundo. Transbordam da tua alma

de menina errante, destas pequenas cidades

onde as adolescentes minguam e pode-se ver

as estrelas. Teus olhos te desnudam

em plena luz do dia.

 

sábado, 24 de maio de 2025

Amanhecer

 


 

 

No fugazes caminhos

do mundo

me deste um sorriso.

E eu o ensaio em mim

sempre que em mim apareces

E agora aqui sem você

longe da sua companhia

conjugo o verbo amanhecer

Sempre que em mim

amanheces

 

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Destinos


 

Uma revoada de pássaros pode mudar o horizonte

Uma palavra pode  mudar o mundo.

Pássaros ao acaso podem mudar um destino

se coubéssemos em algum destino

Evitaríamos assim  existir com a ilusão

da qual não comunga os pássaros, de que

cumprimos destinos

  

segunda-feira, 19 de maio de 2025

O Alfabeto das águas


Não sou eu que escrevo o poema 
 mas este inquieto espírito alado 
 desgarrado das ânforas do infinito 
Aqui, há muito tempo a acompanhar-me 
 Não sou eu que os escrevo quando o mar bate 
em mim como costados e me oferece dos búzios 
seus enredos e águas sussurradas 
Não sou eu que o escrevo mas este ente 
sempre inalcançável 
 que me fala pela alma dos barcos 
 e me concede paisagens para logo 
transmutá-las em estiagens

sexta-feira, 2 de maio de 2025

No Coração da Matéria

 Quebro a máquina de janeiro 

no coração mudo da matéria

pisando estrelas e vísceras abertas

Sigo sem destino fingindo ter destino

com a alma talhada por pedras

Mas a sombra de um menino me acompanha

diz-me ser eu mesmo antes de mim

Digo-lhe da morte das baleias e ele ri

Acendemos incensos pela noite

acudindo vaga-lumes descuidados

que agonizam no chão áspero da terra

Criamos com a areia do mar a fórmula

de salvar o mundo

usando serragem de estrelas

mas tudo é um sonho

Ele deita o rosto no meu peito assolado

por uma poesia sem dono

e diz ouvir os navios da infância

pergunta-me quem foi Gepeto

pergunta-me o que é o cansaço

pergunta-me sobre sua mãe e seu pai

sobre todos os movimentos dos barcos

que vê e me mostra no horizonte

onde eu

cego pelo hábito de viver incrédulo

não vejo o que sei que lá se encontra