ELISABETH. PARA SEMPRE NO MEU CORAÇÂO
Poesia Brasileira Contemporânea Francisco Orban
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quinta-feira, 2 de maio de 2024
sexta-feira, 26 de abril de 2024
Navios do mar
Navios do mar
Quantas vezes
contemplei
seus destinos
enquanto o vento
da paisagem
sobre outubro
e seus verbos
folheava as rimas
do improvável
Há quem me traga
agora
seus caminhos
sem costados
a tese de seus passageiros
cegos
o mapa de seus mundos
submersos
Enquanto eu
refaço em mim
o percurso
de seus visionários
as dunas dos aquáticos
diálogos
que ficaram
nos caminhos
do mundo
terça-feira, 2 de abril de 2024
Janeiro e o mar
Eis a prova de que janeiro antecedeu o mar, quando navegávamos errantes em um mundo que antecedia os nomes. Eis que janeiro nos navegou pelos barcos dos acasos e já não há como voltar. Eis que Janeiro se desdobrou e trago nos olhos o êxtase de sua estação. Agora quero abraçar janeiro, sem as neblinas que se tornam antolhos. Se assim cegos voltam os navios negreiros, se assim cegos não teremos mais enseadas, se assim cegos restará uma longa espera. Um dia sangrei os navios e depois os desovei no mar. Um dia desci pelo quebranto da aurora. Janeiro não pertence mais as águas. Janeiro agora é só uma cilada. O escalpo aguado de um sonho.
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Jornada
Precários são os
andaimes
desta vida
desgarrados
minha jornada é
por demais densa
para a minha
alma alada
Pois me encantei
com as palavras
que em mim
pousam em silêncio
e não há porta
ou janelas
para tange-las
de perto
Elas são os meus
navios
com que navego
no incerto
Ruas
Esta rua sempre
esteve aqui
e nos esperava
com suas calçadas
alagadas de
madrugadas
Sempre; mesmo
antes de existir
ela já se
plasmava no sonho
de algum
passante
que a pressentiu
e a sonhou
infinitas vezes
para que ela
assim se erguesse
feita de sonho e jasmim
domingo, 31 de março de 2024
Menina solar
É uma estrela cadente
uma mulher solar
De perto uma menina
vestida só de luar
Assim como as sereias
que regem as águas do mar
Fez ela em meu coração
por não podê-la abarcar
essa dor que não se encerra
sempre a passar sem passar
(Poema dedicado a Ana Carolina)
O enredo das águas
Não sou eu que
escrevo o poema
mas este
inquieto espírito alado
desgarrado das
ânforas do infinito
Aqui, há muito
tempo a acompanhar-me
Não sou eu que
os escrevo
quando o mar
bate em mim como costados
e me oferece dos
búzios seus enredos
e águas
sussurradas
Não sou eu que o
escrevo
mas este ente
sempre inalcançável
que me fala pela
alma dos barcos
e me concede
paisagens
para logo
transmutá-las em estiagens
sexta-feira, 29 de março de 2024
Tarrafas
Quantas palavras
pesquei
no indizível
Para viver eu
segui
os acenos do mar
e tentei
alardear
sua conspiração
com o azul
sua sujeição à
aurora
e açudes
imprevisíveis
Mas para achar a
radiância
me fiz valer da
poesia
Ela me traz os
barcos
que me levam às
dunas
do sagrado
Conselho na praia
Não aplume a
vela das jangadas
deixe os ventos
do mar cumprir essa jornada
Pois elas
tangenciam e colhem o sal do mundo
e tu só tens os
remos das palavras
Portanto não
afronte os horizontes
pois eles são a
morada das águas
e se esses ventos
hoje salgam os dias
amanhã te darão
uma enseada
domingo, 24 de março de 2024
Laje branca
A noite arada pelo vento te afaga com seus elementos, mas os teus olhos sobre a laje branca já nao tem o ar cansado dos passantes. Em ti ancoram ínfimos os navios dos teus poemas, mas estás aqui alheio à multidão de signos. Tens por fim somente a companhia de teus versos que nesta madrugada pousam leves como bichos ariscos de outros universos.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Adornos
Se a dor não passa
adorne-se com os poemas
e a brandura com que
aquecem
a imprecisão cruel
do mundo
Tudo é uma matemática
clara
no chão da poesia
onde a vida desconhece
as coisas que não amanhecem
sábado, 17 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024
Insone
A mulher que acorda os pescadores
Levanta-se cedo para fertilizar o mundo
Levanta-se suada e linda, antes do nascer do sol
com as palavras que a saciam já entranhadas
na carne, mas que desconhecem sua alma de menina.
A mulher que acorda os pescadores finge não saber
o que os poetas sabem
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
Olhos opacos
Aqui te entrego o meu corpo cumprido
Os olhos já opacos sem mais brilho.Os braços
sem os músculos do olimpo. Uma tímida barriga
debruçada. Uns cabelos ralos desgarrados.
Te entrego minhas mãos cansadas, com as manchas
senis das estradas. As longas memórias
remotas.
Os curtos descuidos dos instantes
e uma alma errante e adestrada
para dublar o já vivido
domingo, 28 de janeiro de 2024
Quase uma intenção
Eu pisava no firmamento e chovia
Alegorias de cães quebravam a ordem do dia
Os chumaços dos avisos/que eu derramei pelo
tempo
passaram a me nomear. Sem me dar conta. Sem acatar
contas
Nobre é esta relva em que me deito na
contramão do azul.
No leito dos últimos dias. Foi quase uma
intenção sacrificar
Os pássaros
quarta-feira, 17 de janeiro de 2024
Poema para Efigênia
Não poderia
fazer teu retrato
porque teus
olhos tristes
não cabem
nesta moldura. Teus olhos tristes
inundam o
mundo. Transbordam da tua alma
de menina
errante,destas pequenas cidades
onde as
adolescentes minguam e pode-se ver
as estrelas.
Teus olhos tristes te desnudam
em plena luz
do dia
sábado, 6 de janeiro de 2024
LIVRO RECOMENDAÇÔES AOS SONHADORES
LIVRO RECOMENDAÇÔES AOS SONHADORES
Francisco Orban
(6 de janeiro de 2024)
Jangada
Se ser do mar é destino
o que dizer da jangada
de toda jangada do mundoA jangada ja trançada
Mas o mar que a nomeia
E entre tantos movimentos
Passageiros provisórios
Você me prometia a eternidade
Por isso eu andavacom os pulsos abertos
para a esperança
E deitava-me com os signos do mar
os cavalos marinhos
das noites sussurradas
no coração sem pátria
da poesia
Você me prometia o mar
um país de claridades
sobre as ruas silenciosas dos dias
E eu caminhava
com meu corpo apaixonado pelo seu
na sombra clandestina da tarde
nas noites onde o seu seio me afagava
Você com o seu cheiro e a sua carne
onde outros escreveram caminhos
e eu fui buscar uma rosa
para o seu olhar
que detinha o poder das horas
entre os sinos
que tocavam o nascimento do mundo
sem saber que éramos
passageiros provisórios
Construções de navios
requer harmonias
e razões inéditas.
Para que seu leme
perceba um destino,
exige-se a prontidão cívica
dos sonhadores.
Um convés que comporte
a salinidade sob estrelas
e um rumo que o norteie
para além da precisão
da noite.
Faz-se isso necessário
para que o brilho
de sua história
se concretize.
E o processo de velejar
sobre os matizes
o incorpore à ruidosa
estação do mar,
que o tange para sempre,
para além da noite
e da vertigem
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Anos setenta
foi meu último Quilombo.
Dela eu bebo
uns crepúsculos de outonos
no gargalo
um mapa da Riachuelo
o gosto de um breve janeiro
Desse Quilombo guardo
o passaporte falso de estrangeiro
a pele dos que viveram furacões
as mãos dos condutores de veleiros
Desses anos trago
a roupa da aventura que vestia
e um velho violão inadequado
para a nova ordem da mobília
Redes de vento
trabalhar as mãos talhadas pelo tempo
com elas esculpo signos
tenazmente pela madrugada
Com elas movo moinhos
que me movem por países de silêncio
onde espreito as palavras
com minhas redes de vento
Esta é a função que exerço
semear na pátria das falas
Esta é a função que entendo
noite a dentro com as palavras
por estações de vocábulos
e calendários de águas
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Açude aberto
açude aberto
em que terraço
de água
achei o convés
de teus versos?
Quando teu verbo
era o que me navegava
e na palma dos teus veleiros
esculpiste os ventos
que eu buscava
Mar
país de águas
assentado
nas almas
dos pescadores
que conhecem
tuas calmarias
Teu modo de encantar
as vidas
antes de salgá-las
Do livro "Recomendaçonhadores" de Francisco Orban
Migrações
Do deserto também
nascem pássaros.Aqui mesmo
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Seca
Não havia lagos mas o silêncio. E um latifúndio de acasos submersos. E uma estação fria, sem mapa. E a seca dos versos não escritos. Não havia tempo mas um território de ventos e verbos. E uma pequena canoa onde desciam pela grande noite, levando o livro das utopias breves. As que movem o mundo e se ausentam.
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Navios de agosto
Já não te aguardo
foste levada
pelos navios de agostoJá não te aguardo
Não te aguardo
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Cantar dos galos
Eu me quedo
com os ossos fatigadosE o silêncio atenuado
Do livro "Recomendações aos sonhadores"
]
de Francisco Orban
Cercados do tempo
fere as palavras
que moram nos cercados
do tempo
Assim prefiro levá-las
às tardes onde pousa
a lua
Assim prefiro deixá-las
nas noites feitas
de vento
Trago as palavras
que são músicas
para os silêncios
que são falas
Longe das vozes
mudas
que são muros
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Altar das ruas
Não foi o homem cego
que não atravessou a cidadecom as mensagens oceânicas
que ficaram por ser ditas
Não foi o topo da ilha
onde se largaram
no movimento das águas
vidraceiro de mãos cortadas
menino ambulante com mãos de amendoim
não vendido
vendedor de cocada expulso
de seu pequeno reino
moça atirada do trem sem vestes
homem sonhador morto
estatístico cansado de toda estatística
Para onde iremos depois de tudo
perambulantes da noite
entre multidões sedadas
com os anos da inocência esquecidos
com os andaimes das horas esgotando-se
Senhor convidado para o jantar
mulher culta do olhar desolado
para onde iremos
sem as palavras
do altar das ruas?
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
País sitiado
Não é porque dormes
Semblante de água
com seu semblante de água
imóvel velejando
nesse escombro de sonho?
De que fala esse homem
nessa cidade de prata
sobejo de agosto na boca
redemoinho sem rosto?
De que fala esse homem
com sua utopia sem nome
e o beijo das fadas
embrenhado no corpo?
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Dirás
que vim do abismo
e os veleiros nos seguirão
pelo mundo
Dirás de mim
que vim do abismo
e em teu corpo farei
as canções que a terra
pede
e minhas mãos serão
a pousada do teu
abandono
Como dentro de um transe
Deixaram os cavalos partir. Agora galopam namorando a lua e seguem o rastro dos ventos. Vindos das águas e das ilhas, correm pela noite como dentro de um transe. Com seus músculos em sintonia com o mundo, os cavalos não sonham as palavras dos homens. Exacerbados pelo enigma que os consome e lhes concede um tempo breve feito de ternura e fúria.
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Encontro com o mar
Esse encontro com o mar
não foi acaso;
A ordem implantada
Eu estive no jardim sem fala
dos esquecidos
e atirei pedras
no grande saguão
da ordem implantada
E me lembrei da vida
dos ciganos
entre milhões de carros
estagnados
E minha gente assistiu
à morte do mundo impossível
e molhou a mão em vastos
horizontes
para acordar em valas
Se esta rua fosse minha
Se esta rua fosse minha
não seria este alagado
de carros e vidas
provisórios
Eu a pontuaria
com os acordes dos violinos
da terra
e em cada esquina ergueria
um parque
com bancos para os homens
sentassem
e pausa para que meditassem
sobre o que fizeram
Se fosse minha
eu a cultuaria com os vinhos
do mundo
e ergueria em cada esquina
um teatro
para que as mulheres com seus
encantos cantassem
pelos que vão nascer
hastes de poemas
Só no meu peito
- casebre das estações
perdidas
guardei as hastes
dos poemas
arrancados
domingo, 31 de dezembro de 2023
Navios do mar
Navios do mar
Quantas vezes
contemplei
seus destinos
enquanto o vento
da paisagem
sobre outubro
e seus verbos
folheava as rimas
do improvável
Há quem me traga
agora
seus caminhos
sem costados
a tese de seus passageiros
cegos
o mapa de seus mundos
submersos
Enquanto eu
refaço em mim
o percurso
de seus visionários
as dunas dos aquáticos
diálogos
que ficaram
nos caminhos
do mundo
Do livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Nélia
Quanto navios recostavam
no teu rosto
quando eu te amavaDo livro "Recomendações aos sonhadores" de Francisco Orban
Advento do verbo
Vejo-o com o olhar
dos que sonham
Para o outono nasci
mas me perdi
de sua aventura
Não o acho na noite
que construí
não o acho
no advento do verbo
nem no dorso
das canções belas
Para o outono nasci
mas o perdi
no córrego das ruas
e isso deixou sequelas
e deixou-me
as mãos largadas
e me trouxe
o silêncio dos pescadores
que tangeu
de mim meus navios
dizem que para a lua
Do livro "Recomendações aos sonhadores"
de Francisco Orban
Reis magos
Levavam a mirra
Vantagens de um pescador
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
Velha roupa de madrugadas
Se os veleiros
não nos seguirem mais
pelo mundo
outras palavras nomearão
as coisas
Uma velha roupa de madrugadas
não terá mais sentido
e os vínculos com os sonhos
estará desfeito
Mas o que impediria os veleiros
de permanecer tão janeiros
em sua vigília de brancas velas
no mar amarrotado de ventos
Do livro de Francisco Orban, Recomendações aos sonhadores, (Ed 7Letras)
O Poema de areia
Vejo em teu rosto
uma integridade tão bela
que a mim me perguntoUm tempo sem fim
Pergunto agora aos veleiros
Do livro "Recomendações aos sonhadores"
de Francisco Orban
quinta-feira, 28 de dezembro de 2023
ônibus 614
A noite por dentro das horas e do amor
e os rostos deitados no chão do mundo
Assim caminháva-se