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domingo, 27 de março de 2011

QUILOMBO DE CIMENTO

            Texto de Francisco Orban

         Há dez anos que moro neste quilombo de cimento a que chamam de cidade, se suas janelas blindadas não desmentissem este nome. Enquanto se aguarda em vigília o final da noite e dos tiroteios, divago com a lembrança dos pássaros revoando. Entre os derradeiros prisioneiros de uma guerra não declarada, refaço o tempo das manadas de onde me desgarrei para esta pátria sem sonhos, da qual não sei se existe volta.
         Já tive um itinerário próprio, com passos de mar e mãos de súbitas ventanias e conheci o papel dos veleiros e sua incursão no país das águas. Quanta falta me faz esse roteiro. Com ele eu cumpria estradas e meu caminho no mundo.

 
Do livro de Francisco Orban, Leilão de acasos, (editora Garamond
tel 021.25049211)



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