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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Araguaia



Na mata o silêncio
com sua orquestra de sombras
bichos secretos falam a língua
do Araguaia. São assombrações ou  homens
os que se arrastam no chão?
A noite desce quebrada sob a mata devassada

onde se arma a palavra, agora em forma
de bala. São assombrações ou homens
os que se arrastam no chão?
São vaga-lumes errantes
ou são homens do sertão? Ou são os filhos do mundo,
que se embrenharam na mata, com a
paixão amolada e certezas inexatas?

Na mata o silêncio fala e os codinomes são muitos
e todos os gatos são pardos, na noite do Araguaia
onde a linguagem é de guerra, e ama-se ao relento
sob o silêncio dos muros, por dentro da mata densa
da disciplina férrea, ama-se dentro da guerra, porque a
vida é uma pétala, acesa como uma floresta, que
logo será extinta como outras, como tantas, feito um
caule de esperança refeito, e fraturado, na madrugada
densa, refeito e fraturado.
Onde há dúvida há cansaço, e a dúvida nada gera.
É necessário avançar, mesmo que na pátria selva,
para os combates sem trégua, para amordaçar a
morte, e sangrar dela o veneno.
Mas a morte é uma raposa que se alimenta de todos.
Aos descuidados e tolos, a morte, que reserva um abraço,
pisa quase em silêncio,  range seus  tentáculos , satélites
azuis espreitam, luzes escuras enxergam, 

A mata era um ser arisco, com olhos de vidro nas
águas, anônimos, demoníacos, disseminados nos
bichos.
                     Francisco Orban



Um comentário:

  1. Acabei de ler os seus versos irrequietos e pra mim hermeticos de tempos que não vivi e me são ausentes de lembranças. Mas me tocam de forma profunda nos anseios por liberdade e justiça. Que se revelam os segredos e fecham as feridas. Beijos. Nathy

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