Por muito menos guardei em mim o mar. Com as
juntas dos ossos partidas, refiz-me pouco a pouco das palavras de ordem de uma
canção antiga, que falava do esperar. Não sobrou muito depois. Uma vez
despojado desses versos, descobri que a encantação me alimentava. Entre as
hordas de um país feito de noite, a encantação fora um guia
não muito prático para as coisas mais próximas da realidade.
Hoje, irmanados, nesse ônibus parador, que
caminha sem nenhum mapa por um país chamado mundo, penso nesse roteiro
vagabundo, do qual não guardei cópia. Lá fora, um horizonte de águas cerca e
toma as últimas cidades de nossas biografias. As mesmas cidades em que um dia
fomos invencíveis, quando portávamos em nós a força do touro e a magia
dos que se alimentam de transes, como uma manada de sonhadores, em harmonia com
seu rebanho.
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