Durante muito tempo quis ter a consistência dos
navios. Não os reais, mas os que navegam na mente. Já que achei que o
mundo é apenas um acidente de percurso, dei aos meus navios um mar
acidentado, para que pudessem velejar sob as escarpas das águas e destinos.
Também lhes ensinei a língua dos horizontes para que pudessem atravessar o caos
do mundo sob a lua e também um mapa medieval, para que chegassem aos mares dos
sonhos. Durante muito tempo meus navios tiveram um intrigante semblante.
Pareciam monumentos móveis em suas marinas distantes, a tocaiar aves
ribeirinhas e amparar os pescadores cegos. Meus navios se foram e para mim
ficaram as calmarias. Com elas faço inventários de areia, dia após dia.
Do livro de Francisco Orban, Leilão de acasos- ed Garamond
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