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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Paraty

Paraty Naquele momento, olhando o mar com seu dorso amarrotado pelo vento, restabeleci novamente meu diálogo com esta cidade e seu passado. Paraty era então um lugarejo perdido de onde escoava o ouro. Suas igrejas loteadas dividiam seus habitantes: uma era para os senhores, aquela para os mulheres brancas, esta para os mestiços e negros escravos Num mundo injusto e segregado, a cidade era assim repleta de insetos peçonhentos e de dejetos atirados nas ruas, sobre as calçadas de pedras trazidas de Portugal por seus navios. Pedras que não foram tantas quanto as de ouro retiradas pelos homens negros e expatriados, que como escravos, também foram de suas vidas arrancados. Assim, chegamos do futuro a esta cidade pousada no azul como uma nave de luz no chão do mundo, toda feita de leveza pelos poetas que a restauraram e a reinventaram. Estes que foram os que possibilitaram a sua permanência, como se encontra, assim como seus fundadores que um dia conspiraram para que ela existisse assim como uma pétala. E desta maneira a vemos, com os nossos olhos transmutados pelo hoje, na ilusão de que Paraty de alguma forma tenha sido sempre esta que agora vivenciamos. É que, naquele mundo brutal, suas paredes foram erguidas como são e talvez ela existisse assim, como veio a se tornar, posto que embrionariamente, já existia no coração dos homens. Francisco Orban

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